Infalível-infalável

Enquanto me preparava para produzir estas imagens para a revista Helena, me perguntava: o que posso propor para quem conhece ou vive a cidade de Curitiba? O que nos faz autores desta ou de qualquer outra cidade? De que forma criamos as imagens que mais tarde assumimos como se estivessem sempre estado ali? Será que as imagens podem realmente falar algo do que somos? Aos olhos da autoridade – e talvez por isto – nada se assemelha mais ao terrorista do que o homem comum.
Gosto de pensar o mundo através das imagens, pois há, nelas, uma natureza de acidente. Não existe nelas uma realidade contínua e as imagens precisam ser geradas a cada instante por quem as olha. A imagem só funciona se estiver viva, para além do racionalismo esclerosante. Nada faz dela verdade, a não ser que a gente possa nela se reconhecer. Um reconhecimento tanto mais potente quanto imprevisto, flutuante e que não se deixa aprisionar.
Estas imagens foram feitas no coração da cidade de Curitiba: o Passeio Público. Ali, me marcou uma visita que fiz, logo que cheguei do lugar onde vivia. A cidade era Passo Fundo; e, como se não bastasse o nome, vivíamos dentro de um jaboticabal, no meio do mato.
Quando entrei no ofidário do Passeio pela primeira vez, senti que a minha vida estava mudando para sempre. Pois não era mais preciso correr para salvar-se das cobras que apareciam na nossa frente. Estávamos todos salvos, nós e as cobras. Uma salvação que aproximava de uma forma estranha a vida e a morte. Ali, comecei a cidade, ali comecei Curitiba.